Hoje a liberdade é enorme quando se fala desse assunto, o que , aliás, torna-se ocasião para muitos desvirtuamentos em termos de namoro. Coisas que para a geração anterior era impensável, hoje tornou-se tão comum entre os jovens; por exemplo, viajar juntos sem os pais; dormirem na mesma casa, etc. Se por um lado esta liberação pode até facilitar a maturidade dos jovens namorados, não há como negar que é uma oportunidade imensa para que o relacionamento deles ultrapasse os limites de namorados e precipite a vida sexual.
Lamentavelmente tornou-se comum entre os casais de namorados a vida sexual, inadequada nesta fase. O namoro, como já mostramos, é o tempo de conhecer o outro, escolher o parceiro com quem a vida será vivida até a morte, e é o tempo de crescimento a dois. Tudo isto será vivido através de um diálogo rico dos dois, pelo qual cada um vai se revelando ao outro, trocando as suas experiências e as suas riquezas interiores, e assim, começa a construção recíproca de cada um, o que continuará após o casamento.
O namoro é acima de tudo o encontro de duas pessoas, capazes de pensar, refletir, cantar, sonhar, sorrir, e chorar. O mar é belo e imenso, mas não sabe disso; a terra é bela e rica, mas não sabe disso; o pássaro é belo e não sabe disso. Você é bela, inteligente, livre, dotada de vontade e de consciência; e você sabe disso. Você não é um objeto; é uma pessoa, um ser espiritual e psíquico. O namoro implica no reconhecimento da “ pessoa” do outro , a sua aceitação e comunicação com ela. É diferente de conhecer uma pessoa e conhecer um objeto.
O objeto é frio, a pessoa é um “ mistério”, não pode ser entendida só pela inteligência, pois a sua realidade interior é muito mais rica do que a idéia que fazemos dela pelas aparências. Você só poderá conhecer a pessoa pelo coração e pela revelação que ela faz de si mesma a você. No objeto vale a quantidade, o peso, o tamanho; a forma, o gosto; na pessoa vale a qualidade. O objeto é um problema a ser resolvido, a pessoa é um mistério a ser revelado e compreendido. Saiba que você está diante de uma pessoa que é única, insubstituível, original, distinta de todos os outros...
Alguém já disse que cada pessoa é “ uma palavra de Deus que não se repete”. Não fomos feitos numa fôrma. No namoro você terá que respeitar essa “ individualidade” do outro, para não sufocá-lo. Muitas crises surgem porque ambos não se respeitam como pessoas e únicas. É por isso que as comparações e os padrões rígidos podem ser prejudiciais. Você não pode querer que sua namorada seja igual aquela moça que você conhece e admira; o seu namorado não tem que ser igual ao seu pai... Cada um é um.
A liberdade é uma condição essencial da pessoa. Sem liberdade não há pessoa.
É no encontro com o outro que a pessoa se realiza; e aqui é que está a beleza do namoro vivido corretamente. Ele leva você a abrir-se ao outro. A partir daí você deixa de ser criança e começa a tornar-se adulto; porque já não olha só para si mesmo.
O namoro é esse tempo bonito de inter-comunicação entre duas almas. Mas toda revelação implica num comprometimento de ambos e num engajamento de vidas.
“ Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, disse o Pequeno Príncipe. Você se torna responsável por aquele que se revela a você do mais íntimo do seu ser. Cuidado, portanto, para não “coisificar” a sua namorada. Às vezes a coisificação do outro se torna até meio inconsciente hoje. Ela acontece, por exemplo, quando o noivo proíbe a noiva de usar batom, ou a proíbe de cortar os cabelos.
O marido “coisifica” a esposa quando a obriga a Ter uma relação sexual com ele, quando não a permite participar das “suas” decisões financeiras; quando a proíbe de Ter alguma atividade na Igreja, etc. O namorado “ coisifica” a namorada quando faz chantagens emocionais com ela para conseguir o que quer. A namorada “ coisifica” o namorado quando o sufoca fazendo-o ficar o tempo todo com ela do seu lado, sem que o rapaz possa fazer outros programas com os amigos. O pai “coisifica” o filho quando o submete a si com se fosse um escravo... Não faça do outro um objeto, e não deixe que o relacionamento de vocês se torne uma “dominação do outro”, mas um “encontro” entre ambos.